Foz do Iguaçu: História nas Fronteiras da Água e do Tempo

Introdução

Poucas cidades no mundo carregam em si a força de um espetáculo natural e, ao mesmo tempo, a densidade de tantas histórias cruzadas. Foz do Iguaçu é uma delas.
Do alto do mirante central, diante das quedas que rugem incessantes, é possível sentir o coração da terra pulsar. O poeta espanhol Rafael Alberti, ao conhecer as Cataratas, descreveu-as como “um cavalo em disparada de espuma”. Essa imagem traduz o que é Foz: movimento, encontro, intensidade.
Aqui, a água não apenas esculpe a paisagem, mas também a própria alma da cidade.

Capítulo 1 – Antes dos Mapas: Povos Originários

Muito antes de linhas serem traçadas em mapas ou fronteiras delimitarem territórios, a região já era morada de guaranis e kaingangs. Para os guaranis, o rio era estrada e oração. Chamaram-no de Y-guasu — “água grande” —, uma designação que ecoa até hoje no nome Iguaçu.
Suas trilhas ancestrais, como o lendário Caminho do Peabiru, cortavam a mata em direção ao Atlântico e aos Andes, carregando sonhos, rituais e mercadorias. Naquele tempo, a floresta era templo, e o rio, guia.

Capítulo 2 – Entre Coroas e Cruzes (1500–1777)

Em 1541, o explorador espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca cruzou estas terras. A tradição local o reconhece como o primeiro europeu a contemplar o véu branco das Cataratas. Em sua crônica, descreveu uma região fértil, exuberante, onde as águas se multiplicavam sem fim.
Nos séculos seguintes, as reduções jesuíticas floresceram na Bacia do Prata, marcando a presença da fé, mas também de resistência guarani. Enquanto isso, os impérios ibéricos redesenhavam o mapa: Tratado de Madri (1750), Santo Ildefonso (1777) — papéis e selos tentando conter rios e selvas que jamais se curvaram.

Capítulo 3 – A Fronteira se Instala (1888–1914)

Após séculos de silêncio, o Estado brasileiro fixou sua presença com a Colônia Militar do Iguaçu, criada em 1888 e instalada no ano seguinte. Soldados abriram picadas, ergueram quartéis, esticaram fios de telégrafo.
O que era selva densa começou a se transformar em arraial. Vieram sertanistas, agricultores, pequenos comerciantes. Vieram sonhos de prosperidade. Na mata, surgia o esboço da cidade que viria a se chamar Foz do Iguaçu.

Capítulo 4 – A Vila Iguassú (1914)

Em 14 de março de 1914, a lei estadual criou o município. No dia 10 de junho, erguia-se oficialmente a Vila Iguassú. Seu primeiro intendente, Jorge Schimmelpfeng, organizou ruas, serviços e uma administração ainda incipiente.
Conta-se que Schimmelpfeng percorria a vila a pé, ouvindo moradores, resolvendo pequenos problemas e plantando grandes ideias. Foi o primeiro capítulo da cidade enquanto comunidade.

Capítulo 5 – As Cataratas Viram Patrimônio (1916–1939)

Em 1916, uma visita mudou o destino das Cataratas. Santos Dumont, o pai da aviação, ficou maravilhado com a grandeza das quedas e indignado ao descobrir que estavam em mãos privadas. Com sua influência, pressionou o governo estadual, que naquele mesmo ano declarou a área de utilidade pública.
Nascia a ideia de proteção que culminaria, em 1939, na criação do Parque Nacional do Iguaçu. Um tesouro natural agora guardado para toda a humanidade. Como disse Dumont: “As Cataratas não pertencem a um homem, mas ao mundo inteiro.”

Capítulo 6 – Pontes e Estradas (1940–1970)

A partir da década de 1940, Foz começou a se conectar mais intensamente ao Brasil. O Marco das Três Fronteiras, erguido em 1903, passou a simbolizar não a separação, mas o encontro de povos.
Em 1965, a Ponte Internacional da Amizade uniu Foz a Ciudad del Este, abrindo portas para o comércio e a integração. Pouco depois, em 1969, a BR-277 ligou a cidade ao litoral paranaense, aproximando o mar das Cataratas.

Capítulo 7 – A Era Itaipu (1973–1984)

Então veio a obra que transformaria para sempre a cidade: a Itaipu Binacional. O tratado de 1973 firmou a parceria Brasil–Paraguai. As obras começaram em 1975, e em outubro de 1982 o rio Paraná foi fechado, dando origem ao lago que faria girar as maiores turbinas do planeta.
Com Itaipu, Foz do Iguaçu viveu seu primeiro grande boom populacional. Trabalhadores chegaram de todas as partes do Brasil, trazendo sotaques, músicas e culinárias. O que era cidade pequena tornou-se caldeirão cultural. Foi ali que nasceu a vocação cosmopolita que define Foz até hoje.

Capítulo 8 – A Tríplice Fronteira Global (1985–Hoje)

Em 1985, a Ponte Tancredo Neves ligou Foz a Puerto Iguazú, fortalecendo o eixo trinacional. No ano seguinte, a UNESCO reconheceu o Parque Nacional do Iguaçu como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Hoje, Foz é um mosaico vivo: as Cataratas, Itaipu, compras no Paraguai, cassinos argentinos. Mas sobretudo é um retrato da diversidade. Aquela vocação cosmopolita forjada na era Itaipu floresceu em uma cidade que abriga mais de 120 etnias. Sírios e libaneses, chineses, paraguaios, argentinos, italianos, japoneses — todos convivendo, todos deixando suas marcas.
Como dizem os moradores: “Aqui não se fala só português, espanhol ou guarani. Aqui se fala Foz.”

Capítulo 9 – Uma Cidade de Recordes

Foz do Iguaçu é, por vocação, cidade dos grandiosos, dos extremos, dos números que impressionam — sejam naturais ou construídos. Não basta dizer que ela é majestosa; é preciso mostrar que é recordista.

Itaipu, Obra-Fruto da Ambição Humana

A Usina Hidrelétrica de Itaipu foi, em sua época, considerada uma das grandes construções da humanidade, eleita em 1996 como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis.

  • Seu reservatório — o Lago de Itaipu — cobre impressionantes 1.350 km² (520 mi²), uma extensão superior à área urbana da cidade de São Paulo;
  • Estende-se por 170 km de comprimento, abrangendo 16 municípios brasileiros;
  • A quantidade de concreto usada equivaleria à construção de 210 estádios do Maracanã, e o ferro e aço empregados dariam para erguer 380 Torres Eiffel.

As Cataratas do Iguaçu: Arquitetura da Natureza

Imagem de poder e beleza pura, as Cataratas do Iguaçu são um verdadeiro colosso natural. O conjunto conta com cerca de 275 saltos distribuídos ao longo de 2,7 km do rio Iguaçu, com alturas que chegam a 82 m — como a emblemática Garganta do Diabo.
Eleitas uma das Novas 7 Maravilhas da Natureza, atraem visitantes do mundo inteiro e estão inscritas no Patrimônio Mundial da UNESCO

Turismo Internacional: Entre os Gigantes do Brasil

Foz recebeu o título de segundo destino de lazer mais visitado por turistas estrangeiros no Brasil — superada apenas pelo Rio de Janeiro (Copacabana) (Wikipedia).
É também considerada a segunda porta de entrada de turistas estrangeiros no país, sendo a principal para os visitantes vindos da Ásia (visit7wonders.com).
Em 2022, as Cataratas receberam mais de 1 milhão de turistas estrangeiros, reafirmando seu peso internacional (hoteldelreyfoz.com).

Rede Hoteleira Imponente

Foz conta com um dos maiores parques hoteleiros do Brasil, com cerca de 28 mil leitos em opções que vão de resorts luxuosos a pousadas aconchegantes (Wikipédia).
Há 12 redes hoteleiras com 16 hotéis de bandeira, incluindo nomes como Atlantica Hotels (396 quartos), Nacional Inn (365 quartos), além de 93 hotéis independentes.

Vocação para o Excepcional

Aqui se encontram: uma das maiores usinas em produção energética; um dos maiores lagos artificiais; uma maravilha natural que figurou entre as 7 do mundo; uma das fronteiras mais movimentadas das Américas — Foz é destino internacional, cosmopolita, preparada para acolher.
É uma cidade de primeiros, de grandes, de memoráveis.

Foz de Amanhã

De terra indígena a destino global, de colônia militar a capital do turismo, Foz do Iguaçu é uma narrativa de fronteiras que se transformam em pontes.
Seu futuro já está escrito nas águas que caem sem cessar: fluídas, poderosas e inevitavelmente compartilhadas. Assim é Foz — um convite permanente ao encontro.

Rolar para cima